Escassez, subjetividade e o mercado da singularidade na arte

A estética permeia arte e sociedade, questionando sua autenticidade diante de manipulações na indústria musical e algoritmos de redes sociais.

Na filosofia, a palavra Estética tem um significado mais abrangente do que nos comerciais de produtos de beleza, mas com uma relação indissociável: o que consideramos belo, e portanto bom. No grego, a “estética” tem origem na palavra “aisthésis”, que pode significar experiência, sensibilidade, sentimento, conhecimento sensível, sensação e percepção (Slater, 2021). De modo que é um assunto que permeia os meandros da inspiração particular e subjetiva, mas todavia coletiva. Um sentimento que se evoca pelo reconhecimento objetivo de um significado nuclear. A partir daí, pode-se supor que a arte não apenas desempenha um papel direto na estética, como também que é possível uma relação direta da estética sobre a arte. E daí, qual o real valor da arte para a sociedade em si? Será possível pensar uma sociedade sem arte? Ou uma campanha política sem estética? Claro que não. Mas, será que alguém poderia definir o valor da arte?

Nos anos 50 e 60 no Estados Unidos, um escândalo conhecido como “Payola” revelou que a industria musical era manipulada. Nesse sentido, as gravadoras pagavam um suborno às radios, principal meio de comunicação da época, o que acabava influenciando o comportamento de consumo. Nessa época, os ícones das gerações e músicas populares eram o reflexo de uma manipulação industrial, que após revelada incidiu numa mudança de referências, e seus respectivos comportamentos. Nas décadas seguintes, o HipHop ascendeu nas paradas de sucesso. O gênero incendiou a sociedade com sua autenticidade e criatividade, atraindo um publico desiludido com o comercialismo da música pop. Consequentemente, todo o arcabouço representado pelo hip-hop, vivências, críticas sociais e protesto influenciou o comportamento da sociedade e possibilitou o surgimento de novas tendências e subgêneros. A manipulação consistia em simular que algo estava em evidência, quando não estava. Mas, e os algoritmos das redes sociais? Será que sofrem algum tipo de pre-disposição? Será que isso significa um novo sistema de manipulação de arte e comportamento?

À medida que avançamos nesta reflexão, é evidente que, apesar de todos os dados históricos e informações disponíveis, ainda nos vemos diante de uma questão central: onde reside o verdadeiro valor da arte em meio a tantas influências e sistemas que a cercam? É aqui que recai sobre os curadores o peso da responsabilidade de discernir a verdadeira essência da arte. Num cenário permeado por gravadoras, produtoras e algoritmos, surge a pergunta crucial: o que define a autenticidade da arte?

Como opinião, penso na arte mais como um meio do que como um fim, como uma tecnologia de disseminação de um universo oculto na subjetividade humana. Cópias existem, claro, mas a arte em sí não pode ser produzida em massa, em escala industrial, pois está intrinsecamente ligada à estética e à busca por um significado particular. E daí emerge sua escassez. 

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